Água: disponibilidade e acesso
Rafael Fernandes da Silva
geonandes@gmail.com
UEPB
A água em virtude de suas características de
renovação no sistema natural foi considerada no passado um recurso inesgotável,
porém, a partir da década de 1970 se desperta para uma tomada de consciência
com o advento de uma crise ambiental ocasionada pelo excesso na utilização dos
recursos naturais, que vem se agravando nas últimas décadas e certamente
compromete as décadas vindouras. Como exemplo, podem ser mencionadas regiões da
superfície terrestre como o Oriente Médio e a África (CAPAZOLI, 1998, p.10).
Segundo Rebouças (2002, p. 01), a água doce é o
elemento essencial ao abastecimento do consumo humano e do desenvolvimento de
suas atividades industriais e agrícolas e é de importância vital aos
ecossistemas.
Por ser um recurso essencial à vida, as questões
sobre disponibilidade total e acesso, bem como dos conflitos em torno do uso da
água, têm sido temáticas bastante abordadas nessa primeira década do século
XXI. Aliada a essas temáticas, aborda-se ainda a questão do crescimento
populacional e do desenvolvimento industrial, que dependem da sua exploração.
De acordo com a UNITED NATIONS EDUCATIONAL,
SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION – UNESCO ou (Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura), o consumo de água em todo o mundo
atualmente está em torno de 6 mil Km³, para abastecer uma população l que
ultrapassa os 6 bilhões de habitantes. O aumento do consumo duplicará nos
próximos 35 anos, chegando ao limite da disponibilidade da água. Atualmente,
perto de 70% da água do mundo é utilizada para a agricultura (QUADRADO &
VERGARA, 2003, p. 45).
A superfície do planeta Terra está quase totalmente
coberta por água: água dos oceanos, dos rios, lagos, arroios e sangas, das
calotas polares e da chuva. A estimativa é que o total de água no mundo é de
1,4 bilhão km³, onde 97,4% são de águas salgadas e que limitadamente podem ser
usadas pelos seres humanos. O reduzido percentual de apenas 2,6% é constituído
de água doce dos rios, lagos e aquíferos (VICTORINO, 2007, p.16).
O Brasil tem posição privilegiada no mundo em
relação à disponibilidade de recursos hídricos. A vazão média anual dos rios em
território brasileiro é de cerca de 180 mil metros cúbicos por segundo (m³/s)
Para efeito de comparação, tal volume de água é equivalente ao conteúdo somado de
72 piscinas olímpicas fluindo a cada segundo. Este valor corresponde a
aproximadamente 12% da disponibilidade mundial de recursos hídricos, que é de
1,5 milhões de m³/s. Se forem levadas em conta as vazões oriundas de território
estrangeiro e que ingressam no país (Amazônica, 86.321mil m³/s; Uruguai, 878
m³/s e Paraguai, 595 m³/s), a vazão média total atinge valores da ordem de 267
mil m³/s, ou seja, cerca de 18% da disponibilidade mundial (GEOBRASIL RECURSOS
HÍDRICOS, 2007, p.19).
Apesar da situação do Brasil em relação à
disponibilidade hídrica ser considerada privilegiada, a água existente em
nossas reservas superficiais e nos aquíferos possui distribuição espacial
desigual, além de uma crescente demanda pela sua utilização, e constitui a
principal problemática dos conflitos pela disponibilidade e seu uso em nossa
sociedade.
Segundo
a o relatório sobre a Conjuntura dos Recursos Hídricos do Brasil elaborado pela
Agência Nacional de Águas (2009), dos 18% disponíveis no Brasil, cerca de 73,6%
correspondem à Região Amazônica, região que abriga a maior bacia hidrográfica
do Mundo, cerca de 23,7% correspondem às demais regiões, e dentre elas a região
Nordeste é reconhecida por seu déficit hídrico, resultante de fatores físicos e
sociais, tais como a combinação entre os períodos de seca, estrutura geológica
e o mau uso da água.
De acordo com dados da Agência Nacional de Águas
(ANA – 2009), o Nordeste está subdividido nas regiões hídricas da bacia
atlântico nordeste oriental, atlântico nordeste ocidental, atlântico leste,
Parnaíba e São Francisco, com uma disponibilidade de cerca de 3 a 4% dos
recursos disponíveis no país. A Paraíba apresentou no
período de 2003 a 2008 uma variação negativa de 13%, a maior durante o período,
seguida pelo Rio Grande do Norte, com uma redução de 11% na disponibilidade
hídrica total no período analisado.
Entre
os trabalhos realizados sobre a disponibilidade e acesso à água na Paraíba,
Brito (2008) destaca a região do Açude Epitácio Pessoa (Boqueirão), localizado
na Bacia do Rio Paraíba, como região de conflito por água, uma vez que se
caracteriza a disputa pela demanda da água para os diversos usos, desde o
abastecimento humano e animal até a produção industrial e agrícola.
Ainda
sobre a questão de acesso à água, Lima (2009) cita a questão do Canal da
Redenção, localizado no Sertão da Paraíba, que compõe o sistema de interligação
Coremas/Mãe D’água. Nesta situação é analisada a disponibilidade de água para a
agricultura familiar e manutenção dos assentamentos agrários e a negociação
desse recurso no mercado do hidronegócio, fator que caracteriza o ponto de
conflito entre o direito de acesso à água pelos pequenos agricultores e a
retenção desse direito pelos grandes latifundiários, que monopolizam e
controlam o acesso às terras próximas aos pontos de captação de água.
A
partir desse aspecto, foi realizada a caracterização das relações de conflito
entre os tipos de uso e ocupação do espaço geográfico da BHRC, no intuito de
identificar e caracterizar as zonas ou regiões onde ocorre o uso racional dos
recursos hídricos e as zonas de mau uso, e a partir desses dados poder realizar
uma discussão teórica que possa contribuir para seu gerenciamento de modo a
atingir o desenvolvimento sob a lógica da sustentabilidade ambiental.
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